Ensaios sobre arte e estética

Alguns fragmentos dos textos presentes no livro

"Ensaios sobre arte e estética", de João Werner

"A emoção, contemporaneamente, está associada ao novo, à moda. O novo, filho da indústria, reveste-se da estética para agradar, para tornar-se objeto de desejo. Superficialmente admirável, o novo cria a esfera da experiência que sempre está mais além.

"O choque perceptivo que, em princípio do século, era o mote estético das vanguardas artísticas, foi absorvido pela indústria do novo e, desde então, tem sido tão conjugado pela publicidade que chega, hoje, quase à anestesia. A emoção ofertada pela publicidade é imediata, passageira porque necessita ser descartável, intensa porque competitiva.

"Se apreender a arte é obter dela um lampejo emocional, de acordo com a visão do senso comum, como compatibilizar Rembrandt com refrigerante, Grünewald com o último tipo de automóvel?"

Fragmento retirado do ensaio "Arte e emoção"

"Um exemplo desta distinção entre as categorias estéticas abstrativa e naturalista é possível encontrar em Walter Benjamim. Quando o autor descreve, em um de seus livros, os dois tipos básicos de narrador, quais sejam, o camponês e o marinheiro, temos uma analogia com as duas categorias estéticas principais.

"O camponês, cuja vida transcorreu totalmente em um mesmo local, conhece deste local toda a sua história. Viu as crianças crescerem, viu as boas e as más colheitas, viu os que se foram. Tem, com esse local, uma identidade completa. A proximidade dele com os fatos faz com que sua narração transmita suas tradições, seus costumes. A experiência deste narrador, transmitida por suas estórias, é de natureza empática, insere-se na categoria estética do naturalismo.

"O marinheiro, ao contrário, tem sua vida transcorrendo em muitos locais diferentes. Sua narratividade traz aos ouvintes os fatos distantes não no tempo, como o camponês mas, sim, distantes no espaço. Sua experiência não é contígua, unitária, mas é a articulação de múltiplas vivências. A narração do marinheiro funda-se sobre a possibilidade de transcendência dos fatos isolados. Sua narração é um exemplo de narratividade abstrata."

Fragmento retirado do ensaio "A arte e o abstracionismo"

"Essa origem indeterminada do sentido é tão “real” quanto a ordem que o ser humano encontra no mundo. Nós imprimimos um sentido ao mundo, dando-lhe vários significados, paralelos aos significados que possa ter em si próprio."

"A natureza é a primeira fonte destes sentimentos de atração pelo complexo. O homem primitivo tinha um misto de identificação e temor pelo natural, isto é, se, por um lado, os primitivos temiam os cataclismos naturais a que estavam expostos, por outro, todos os primeiros cultos religiosos eram animistas, adorando o sol, o raio, o trovão etc. Nossos ancestrais tinham um temor misturado à fascinação pelo poder da natureza selvagem."

"O sentimento estético provocado pela complexidade natural tem uma origem anterior ao sentimento estético provocado pela ordem. Afinal, foi muito posteriormente à sua presença na terra que o homem pode admirar-se, de forma profunda, da regularidade que podia impor ao real, através do arar da terra, da domesticação de animais, da produção da cerâmica que ordenava o barro, da cestaria que ordenava o vime, da semeadura que ordenava a natureza."

Fragmento retirado do ensaio "A estética do irregular"

"A ideia de obra de arte, nestes Happenings, dissolve-se na ideia de ação estética. Os Happenings são grupos de pessoas agindo esteticamente; não há, então, "artista" como o concebemos tradicionalmente, nem qualquer monopólio na produção da arte."

"Outra origem da arte conceitual serão os movimentos artísticos da land art e da arte povera. A land art contribuiu com a dissolução da distinção entre arte e natureza, entre o belo natural e o belo produtível. Obra de arte, na concepção dos land artistas, é o próprio locus físico, isto é, entendem a natureza como o próprio objeto artístico. A segunda, a arte povera, trabalha com o objeto encontrado, principalmente o escolho industrial, trapos, lixo, etc, dando-lhes feição estética."

"A arte conceitual, herdeira implícita daquelas tendências, dará primazia não à obra de arte enquanto ser material, mas à concepção desta. Na arte conceitual, o espaço teórico toma a frente da práxis; se antes havia ainda qualquer preocupação quanto à presentidade da obra, na arte conceitual o objeto, quando também material, é um mero sustentáculo das relações estéticas pretendidas pelo artista. Pode-se afirmar que, na arte conceitual, é mais importante a teoria, as concepções intelectuais, do que a linguagem artística em si."

Fragmento retirado do ensaio "A arte conceitual"

"Um dos mais significativos conceitos da modernidade estética, absorvido pelos movimentos artísticos do século XX, é a proposição da história enquanto instância determinante de valor artístico. Assimila, por um lado, a tendência iluminista da negação da tradição, enquanto instância a ser ultrapassada e, por outro lado, assimila a valorização do novo, do original, enquanto corolário da ideia romântica da arte como criação. Já com Baudelaire, a arte se vincula à experiência histórica, ao propor que o instante artístico presente seja confirmado como o passado autêntico de um presente vindouro, pela associação, neste presente atual, de valores de eternidade (Habermas, 1990:20)."

"A noção do progresso, mais especialmente no século XX, formou indiretamente na arte o conceito de vanguarda, o qual, para adquirir valor positivo, tinha de se escorar dialeticamente na tradição. A vanguarda era, enquanto pretenso ápice do progresso na arte, muito estreitamente ligada à vanguarda político-revolucionária. A confiança no progresso da humanidade, em termos das inovações técnicas e de produção que se sucediam em ritmo vertiginoso ao final do século passado foi, em muito, esfriada com a experiência das duas guerras. Mesmo com tão forte inversão do paradigma do progresso na cultura na época do pós-guerra, persistiu na arte a conotação positiva do conceito, inclusive com a aceleração do processo de formação de vanguardas, desde então."

Fragmento retirado do ensaio "Algumas relações estéticas da Modernidade"

"No período de transição entre os séculos XIX e XX, a característica mais significativa que nos interessa destacar é a confiança generalizada na produção simbólica, pelas possibilidades positivas da comunicação e dos processos tecnológicos. Vive-se o momento maior da produção industrial, momento de superação dos processos de produção aviltantes registrados no século anterior. Por outro lado, as transformações provocadas na sociedade pela tecnologia começam a se manifestar mais intensamente na experiência comum de todos."

"No segundo período diacrônico destacado na durée do século XX, compreendido pelas décadas de 20 a 50, identificaríamos como característica principal o pessimismo com a tecnologia e com os objetivos da sociedade industrial. Há uma descrença generalizada nos ideais Iluministas de libertação da barbárie e do misticismo primitivos, os quais ressurgiram revigorados pela experiência coletiva das guerras. A negação exacerbada do racionalismo leva a um resgate dos ideais do romanticismo, da transcendentalização do sujeito diante da sociedade e dos meios comunicacionais."

"No terceiro período, finalmente, na sociedade pós-industrial, destacaríamos a principal característica como o processo de diluição do conceito existencial de sujeito, considerada a ênfase advogada pelas décadas anteriores, em prol de um mais amplo conceito existencial de socialização, de vida social. Consequência ou causa desta diluição, há uma maior aceitação e uma mais intensa absorção da sociedade pela mediação dos processos comunicativos, especialmente aqueles que envolvam grandes quantidades de indivíduos."

Fragmento retirado do ensaio "Simbologia da cultura do século XX"

Sumário

Este pequeno livro reúne 17 ensaios sobre diversos temas relacionados às artes plásticas e à estética.

Os 15 primeiros ensaios problematizam alguns dos conceitos fundamentais da arte contemporânea, tais como a abstração, a relação entre a arte e a técnica ou a manifestação do conceito na produção artística. Sua linguagem leve e a abordagem acessível devem-se a que estes ensaios tenham sido publicados, originalmente, como artigos de jornal.

Os dois últimos ensaios fazem uma breve análise da história da cultura. O penúltimo ensaio é uma análise sobre a Modernidade e a sua assunção estética. O último ensaio, por outro lado, dialoga com a simbologia de nossa própria época, por alguns denominada de Pós-Moderna.

Textos presentes no livro: "Ensaios sobre Arte e estética", de autoria de João Werner:

"O emocional na arte"

"O espaço e a representação na história da arte"

"A apreciação e o objeto artístico"

"A arte e o abstracionismo"

"A estética do irregular"

"A relação entre arte e técnica"

"Crítica ao Neoexpressionismo"

"A arte conceitual" "O admirável e o estético"

"O trauma moderno da história"

"Pompier contemporâneo"

"Valores artísticos e comerciais"

"A interpretação de Leonardo"

"Van Gogh e o signo da contrariedade"

"A estética de Max Bense"

"Algumas relações estéticas da Modernidade"

"Simbologia da cultura do século XX"

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